Mês: agosto 2025

REMANESCENTE: UMA RESPOSTA AO EVANGELHO DE SATANÁS

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Remanescente: Uma Resposta ao Evangelho Segundo Escreveu Satanás

Na verdade, eu descobri que não estava exatamente dormindo. Não estava 100% adormecido, mas também não estava completamente acordado. Era como se eu estivesse em um estado entre os dois, uma espécie de pesadelo que muitos já devem ter vivido.

Eu queria despertar, tentei chamar quem estava ao meu lado, mas minha voz não saía. As tempestades continuavam, os trovões ribombavam e, a cada som, o medo crescia dentro de mim. Senti calafrios percorrendo minha espinha enquanto observava o que acontecia ao meu redor, tanto no mundo físico quanto no espiritual.

Pedi o tempo todo para acordar, porque não suportava mais aquela visão aterradora. Mas uma voz me disse:
“Calma, respira fundo e aguarda. Vou te dar outra visão, e nela tudo ficará mais claro.”

Na primeira visão, vi um demônio que, dez anos atrás, havia sido enviado como uma carta para uma tribo, reunindo uma legião de espíritos malignos com o objetivo de minar e destruir a igreja de Deus. Esse demônio não agiu apenas em nossa região ou estado. Em uma década, sua influência se espalhou por todo o mundo.

Ele pregava um falso evangelho a todos os que não estavam firmados nas Escrituras:

  • Os que frequentavam a igreja sem compreender a Palavra.
  • Os que liam, mas não entendiam.
  • Os que não queriam compromisso com Cristo.
  • Os que buscavam apenas bens materiais, fama, riquezas, vanglória ou prazeres terrenos.
  • Os que estavam frustrados com a vida, mudando de religião apenas como troca de estilo.
  • Os que viviam na prática das obras da carne.

Todos esses foram afetados. Homens, mulheres, líderes, crianças e até os que se deixavam guiar por seus próprios instintos eram influenciados por essa tribo maligna.

Durante esses dez anos, o ataque se infiltrou em todas as áreas: dentro e fora do evangelho, em religiões diversas, na filosofia, na sociologia, na história, na tecnologia, nos meios de comunicação, nas redes sociais, nos programas de rádio e TV.

Sempre que havia uma brecha — um coração ferido, uma mente em dúvida, uma vida marcada por decepção ou desilusão — ali esse espírito encontrava espaço. E assim milhares adotaram esse falso ensino como estilo de vida. Os pequenos se deixaram seduzir. Os grandes usaram essas palavras para se enaltecer. Até líderes religiosos, sem compreender a mensagem da cruz, começaram a pregar esse engano, distorcendo mentes e afastando corações de Deus.

Mas então me foi dito:
“Agora vou te mostrar o outro lado da história.”

O intuito do inimigo não era apenas pregar. Ele queria que eu olhasse a igreja com os mesmos olhos dele: enxergando apenas fraqueza, pecado e miséria. Desejava que eu visse a noiva de Cristo como uma multidão carnal e caída, em vez de como coluna e firmeza da verdade.

Contudo, nem tudo estava perdido.


O Remanescente

Foi então que percebi algo diferente. O efeito do veneno do inimigo em mim só escurecia a visão por alguns minutos. Logo, quando a luz da Palavra chegava, a poeira desaparecia e eu podia ver novamente a verdade. Mas sobre aqueles que não têm o Espírito Santo, o inimigo consegue cegar o entendimento, fazendo-os olhar para a igreja apenas da forma distorcida que ele deseja.

E então vi passar diante de mim um homem. Nas costas de sua camisa estava escrito: “Remanescente”. Ele estava vestido de forma simples, mas preparado para ir ao culto.

Caminhava de cabeça erguida, olhos firmes para frente. À sua mão direita segurava uma espada que iluminava seus passos. Embora fosse noite, parecia que à sua frente tudo clareava. Seus olhos não se desviavam, nem por um instante.

À sua direita e à sua esquerda havia densas trevas. O ruído de carros, asas batendo, risadas e zombarias tentavam atingi-lo. Jogavam contra ele baldes de escárnio, facas de chacota e línguas de serpente. Mas, à medida que caminhava com a espada diante de si, todos os obstáculos eram desviados sem que ele sequer percebesse.

Vi pessoas tentando distraí-lo com fofocas e mentiras, mas a espada o fazia desviar desses caminhos. Ele seguiu firme até chegar à igreja.

Ali se assentou, colocou a espada ao lado, dobrou os joelhos e orou por mais de meia hora. Suas lágrimas caíam, mas desapareciam antes de tocar o chão, pois eram recolhidas por anjos. Ele confessava pecados, buscava renovação, enquanto o inimigo, do lado de fora, gritava desesperado, pois sabia que seu plano havia falhado.

Vi então que “Nefasto” e “Injúria” se reuniram diante da igreja, rabiscando novos planos contra aquele homem. Mas, enquanto tramavam, o jovem Remanescente ergueu as mãos e começou a adorar. À medida que adorava, os escritos do inimigo se apagavam como se nunca tivessem existido.

Durante a ministração da Palavra, ele permanecia em pé, atento, sem se distrair com nada ao redor. E a espada que carregava ficava cada vez maior, mais forte, mais resplandecente.

Ao final, voltou pelo mesmo caminho. Mas já não havia trevas, nem zombarias, nem línguas venenosas. Tudo estava claro como o dia. A cada passo, a espada iluminava ainda mais.

E então acordei com uma voz que me dizia:

“Enquanto houver um remanescente em cada esquina, em cada congregação, em cada trabalho, todos os planos do inimigo, ainda que ele reúna o inferno inteiro, não terão efeito sobre aqueles que caminham com a espada diante de si. Lembre-se: Salmo 119:105 — Lâmpada para os meus pés é a tua palavra, e luz para o meu caminho. Nada está perdido.”


FELIZ ANIVERSÁRIO


Feliz Aniversário

O telefone tocou num domingo pela manhã, quando todos haviam ido à missa, exceto Sóstenes — um velho de mais de oitenta anos que vivia a reclamar da vida.

— Fale logo, não tenho o dia todo! — disse o velhaco com intrepidez.

— Tenho uma novidade para contar — respondeu mansamente a voz do outro lado.

— Problema seu. Não lhe perguntei nada — resmungou o idoso.

— Deixe de grosseria! Nem vai perguntar quem é? — retrucou a voz.

— Pra quê?

— Ora, quando o telefone toca se diz “alô” e se pergunta quem fala… o senhor nunca atendeu um telefone?

— Pois bem, o telefone é meu e eu atendo como quiser.

— Então está bem, mal-educado. Agora não lhe conto a novidade.

— Problema seu! Até bom, porque já tomei raiva da sua cara e olha que nem sei seu nome ainda.

O velho finalizou a ligação, batendo o telefone com força. Após essa conversa desagradável, saiu da sala em direção à varanda, praguejando:

— Maldito seja Alexander Graham Bell, anátema seja esse maldito aparelho! E toda essa ordinária tecnologia! Ligam para mim e ainda querem me dar ordens? Pois não atenderei mais nenhum telefonema!

Assentou-se numa cadeira preguiçosa que lhe parecia desconfortável, esmurrando-a na tentativa de torná-la mais cômoda. Era cedo, por volta das nove da manhã. O velho ainda não havia feito a primeira refeição, mas já havia baforado seu charuto matinal.

Inquieto, mudou-se para a rede, o mais distante possível da casa. Em instantes começou a observar as nuvens que se moviam. De repente, parecia que ia chover de novo — há dias chovia muito e forte. Não demorou e já gotejava-lhe na testa enrugada. A chuva o pegou em cheio. Desceu da rede correndo e voltou para casa, resmungando sozinho, tateando pelos móveis, reclamando da idade e de já não enxergar direito.

— Odeio chuva, odeio domingo, odeio inverno! Vão para o diabo com a missa de vocês, com os telefones e com essas cadeiras! Vão para a peste da peste!

O telefone tocou novamente. Ele tentou correr para atender, pensando em despejar mais impropérios. Mas tropeçou numa poltrona e blasfemou aos berros:

— Maldita seja, Zeza! Velha cega! Sabe que eu não enxergo e me põe esta praga no meio do caminho? Tomara que lhe caiam as mãos na próxima vez que cometer esse crime! Assassina de canela de velho! Vou denunciá-la por maus-tratos! E essa máquina maldita também, que não para de tocar! Já disse que já vou! Você é surdo? Não gosto de dizer “alô” e muito menos de perguntar “quem é”!

Do outro lado, a voz respondeu:

— Alô! Sóstenes?

— Ruuuunh… — resmungou o velho rancoroso, alisando a canela machucada.

— Gostaria de falar com o senhor Sóstenes Demétrio Viega, por favor.

— Fale logo que já estou nervoso de tanta ligação!

— Calma, meu velho. Tenho uma notícia para lhe dar.

— Deixe de ensebamento, infeliz!

Do outro lado, ouviu-se uma gargalhada assombrosa.

— Tem certeza de que não quer saber quem fala?

— Isso vai mudar alguma coisa? — gritou o velho.

— Não exatamente — respondeu a voz, agora mais grave e enérgica.

— Então, insuportável, dê a notícia ou desligue, seu imbecil!

— Está certo, então. A notícia é que comprei sua passagem hoje e estarei passando aí para lhe buscar logo mais, exatamente às 14h32, assim que terminar de almoçar, quando o povo chegar da missa.

O telefone ficou mudo.

— Passar aqui pra quê? Ir pra onde? Que piada é essa?!

Ele se assentou ao pé do telefone, sem entender nada. Lá fora, a chuva caía aos baldes, o vento soprava forte contra a porta da frente.

A família chegou às 13h30. O velho já estava escorado no sofá, coberto com dois cobertores. Suas netinhas gêmeas pulavam por cima dele, ensopando o sofá e o tapete. Puxavam sua barba e ele, finalmente, abriu um sorriso, mostrando a falta de metade dos dentes. Riam e faziam cócegas, gritando com um embrulho nas mãos que parecia ser um presente.

— Parabéns, vovô! — disseram elas, sem que o velhaco se lembrasse de que era seu aniversário.

Sóstenes logo associou as ligações que o incomodaram desde cedo àquela notícia.

— Meu aniversário, claro! Como pude me esquecer?

Pela primeira vez em muitos anos, sorriu de verdade, afagando as netas e agradecendo pelo presente. Subiu devagar as escadas, trocou a roupa molhada, vestiu a melhor que tinha, pegou uma mala que há muito cheirava a naftalina e jogou dentro alguns papéis, seu documento e uma foto antiga de sua última viagem. Desceu com um gorro de Natal, um cachecol colorido feito pela finada esposa e suas sandálias de couro.

— Pronto para a viagem! — disse, descendo as escadas.

Zeza, a cozinheira, largara o terço e acendia o fogo para preparar o almoço atrasado pelo temporal. O genro acendia o lampião, pois já havia mais de uma semana sem energia elétrica na região. A lareira foi acesa para alegria das crianças. O cheiro do lombo bovino no tempero invadia a casa.

— Papai, se mamãe estivesse viva não lhe permitiria comer essas coisas fortes. Não abuse, é só hoje, viu? — disse a filha, arrumando a mesa, sem notar as malas do pai.

O velho tossiu secamente, resmungando que ninguém mandava nele — nem vivos, nem mortos. As meninas gritavam:

— Comida, comida, comida!

Em meio a trovões e relâmpagos, o almoço começou. O rádio de pilha chiava, com o locutor falando sobre o clima e anunciando as horas entre músicas internacionais.

Sóstenes comia como se nunca tivesse se alimentado na vida.

— Eu já estava morrendo de fome… Deve ser o horário, o frio ou a raiva que vocês me fizeram passar hoje!

— Raiva? Que raiva, vovô? — perguntou uma das netas.

— Vocês me ligaram a manhã inteira! Não vem que não tem, não me enganam! Não sou besta!

— Como assim te ligamos? — falou Jorge, o genro, repelindo a acusação.

— Ora, quem mais saberia meu nome completo e endereço? E que vocês estavam na missa? E sobre meu aniversário? Sei que foram vocês!

Zeza entrou com o termômetro.

— Trinta e oito graus de febre! Minha nossa!

— Não é nada! Eu só descobri a surpresa que vocês iam me fazer! Pensam que sou bobo? E aquela história de viagem?

— Que viagem, papai? Que telefonema? — perguntou a filha, preocupada.

Chamou o esposo ao canto e cochichou:

— A febre está alta… Nosso telefone nós vendemos há três anos, logo após a morte da mamãe. E como íamos ligar, se não tem energia elétrica?

Antes que pensassem em como contar ao idoso que talvez estivesse delirando, o locutor bradou:

— São exatamente 14 horas e 32 minutos. A temperatura segue em dez graus e, apesar da chuva recuar, a previsão é de mais frio.

Ao ouvir as horas, o velho gesticulou, apontando para o rádio. Engasgou-se com o bocado de comida, tossiu e caiu roxo sobre a mesa, sufocado.

Os netos gritavam, a cozinheira suava, a filha chorava, o genro o sacudia…

E o velho morria.

Noel Souza


O EVANGELHO SEGUNDO ESCREVEU SATANÁS

Certo dia, tive uma visão dantesca: um lugar obscuro, rodeado de névoas, e duas árvores com vários frutos postas acima da calçada. Uma rua onde não se podia ver nada além daquele pedaço lúgubre de luz — luz essa que eu não sabia quem a mantinha acesa, pois não havia energia alguma para fazê-lo, tampouco candeeiro. Era uma espécie de lampião antigo, agarrado a um poste.Naquela penumbra, vi de forma embaçada a face de um demônio que se apresentava de maneira clara para mim e me desafiava com seu olhar tosco e frio. Mordia os lábios ao falar e não tinha aparência definida: às vezes eu o via como sendo um homem escuro, às vezes, na silhueta da luz, percebia traços de um ser escamoso. Outras vezes, não conseguia ver nada — apenas ouvi-lo. Esse infame tinha uma voz rouca, que também mudava conforme sua face se transformava.Tive a impressão de que, algumas vezes, ele sabia que eu estava ali e me observava, tentando sondar meus pensamentos. Senti pavor daquela cena, mas não conseguia desviar o olhar de forma alguma. E não havia quem me socorresse.O clima mudou de repente para uma tempestade sem precedentes: raios caíam ao meu redor e uma nuvem negra cobriu todo o céu. Os relâmpagos pareciam vozes, e o chão se abalava, abrindo rachaduras aos meus pés. Meus pés estavam trêmulos, eu suava frio, apavorado. Tentei clamar o nome de Cristo, mas fui impedido de fazê-lo. Apenas no coração eu podia invocar o nome do Senhor. Porém, todas as vezes que pensava no nome de Jesus, ouvia uma voz soar em meu ouvido:

— “Ele não pode te ouvir aqui.”

Quando já estava prestes a desistir da vida, tamanho o desespero que havia se abatido sobre mim, senti um queimor no coração como nunca havia sentido — nem mesmo em estado de vigília. Foi então que decidi me acalmar e dar atenção à conversa do demônio.O demônio era um dos piores na hierarquia espiritual. Seu nome era Nefasto, cujo significado ia muito além do próprio nome, pois tinha a conotação de “opor-se a tudo o que Deus faz” ou “se levantar contra”. Mas, além disso, descobri em sua conversa que ele não falava apenas de oposição; muito pelo contrário, falava sobre uma aliança, uma semente, um plantio. Ele ditava a um escrivão que estava ao seu lado, com uma caneta na mão, escrevendo tudo em uma tábua de cortar carne — suja e cheia de moscas ao redor. Esse ajudante se chamava Injúria. Sua face não vi, pois estava de costas, mas parecia a de um homem comum.

Então, Nefasto começou a ditar as seguintes palavras:

Nefasto, servo das trevas, chamado para apóstolo, separado para o evangelho de Satanás.

O qual antes prometeu pelos seus falsos profetas nas escuras escrituras.Acerca de seu anticristo que…

— O senhor tem certeza de que devo escrever assim? — interrompeu o escrivão. — Não seria melhor usar uma linguagem mais popular?

— Tem razão, Costela Oca — respondeu Nefasto. — Vai parecer que estou imitando a carta do nojento Paulo aos Romanos! Escreve aí então!

“Do centro da cidade de Segunda Rocha Ferida, para todos os da tribo Nidus e a todos quanto esta carta chegar. Escrevo esta carta atrasado, mas ainda a tempo de lhes mostrar qual é a nossa vontade, já que vocês aí embaixo parecem não ter entendido muito bem a vontade do nosso pai. Muito embora sejamos reis da mentira, o que vou lhes dizer agora é a mais pura verdade (se é que um demônio pode falar a verdade).As nossas regras nunca foram certas, mas temos ordenanças claras do nosso rei: influenciar de dentro para fora. Não como em outros tempos, infiltrando e plantando joio, mas criando o nosso ninho. Por isso o nome da nossa tribo é Nidus.

Agora, recebi uma mensagem de um escalão maior do que eu, para que possamos intensificar as forças e furar esse bloqueio que tem nos impedido. Fizemos uma reunião e já está decidido: vamos acampar ao redor, vamos fazer alianças e vamos de tudo para não sermos descobertos de forma alguma.Nesta primeira carta, trago os Dez Mandamentos da Tribo.

”1º Mandamento .

Devem odiar e se levantar com toda força contra esse tal Pentecostes que ainda resiste. Precisam se unir contra os crentes saudosistas, que ainda leem a Palavra diretamente. São os chamados “pobres de espírito” — esses são muito perigosos! A maioria é de analfabetos, mas crê veementemente em tudo que lhes dizem. Sentam-se nas igrejas e não estão preocupados com o dia de amanhã, nem se vão subir de cargo. Não se metem na vida dos outros, não se importam com o que falam contra sua igreja nem contra seu pastor.Esses devem ser os primeiros que vocês vão influenciar. Não tenham dó deles: entrem com tudo, arrebentem as portas! Eu proponho que tragam para a vida deles embaraços e pecados. Façam-nos olhar para outro lado, desacreditarem desta geração. Esfriem-nos de tal modo que se tornem reclamões, resmungões, incrédulos. Façam-nos deixar de lado o primeiro amor, viver apenas de saudades, presos ao passado, sem mover uma palha para resolver qualquer questão espiritual.Incrédulos em seus corações, deturpem seu olhar para as coisas de Deus. Deixem-nos ociosos, fofoqueiros, faladores da vida alheia. Soprem em seus ouvidos que não precisam estar todos os dias nos cultos e que podem simplesmente fazer escalas.

”2º Mandamento . Devem lutar contra os que ensinam a Palavra com zelo e sem interesses. Eles ainda têm coragem de falar de santidade, de pecado, de arrependimento e de cruz. Estes são os mais perigosos para nós, pois conseguem abrir os olhos dos outros e despertar os que já estavam adormecidos. Façam de tudo para confundir o entendimento desses pregadores, tragam dúvidas, plantem heresias sutis em suas mentes, usem a vaidade de seus próprios corações contra eles.Sugiram-lhes fama, prometam-lhes reconhecimento, e quando eles aceitarem, usem isso como isca para derrubá-los. Transformem suas bocas em fontes de arrogância, façam-nos esquecer do joelho dobrado e do quarto secreto.

3º Mandamento. Devem desmoralizar a família cristã. Trabalhem para destruir casamentos, instiguem adultério, promovam a pornografia e incentivem o egoísmo. Se conseguirem corromper as famílias, terão atingido a base da fé deles. Façam os filhos se levantarem contra os pais e os pais se esquecerem de seus filhos. A confusão dentro de casa sempre refletirá dentro da igreja.

4º Mandamento. Devem esfriar os corações nos cultos. Façam com que os crentes cheguem atrasados, cansados, distraídos. Transformem o momento da adoração em rotina, sem fervor. Soprem nos ouvidos que não é necessário levantar as mãos, chorar ou se emocionar. Façam-nos cantar apenas por cantar, pregar apenas por pregar. Se conseguirem tirar o fogo do altar, terão vencido.

5º Mandamento. Devem implantar divisão entre eles. Espalhem inveja, ciúmes e disputas por cargos e posições. Façam com que pensem mais em quem vai cantar, pregar ou aparecer, do que em servir ao seu Deus. Façam-nos esquecer que são corpo e que dependem uns dos outros. Onde houver unidade, quebrem-na; onde houver amor fraternal, semeiem intrigas.

6º Mandamento. Devem transformar a oração em mera formalidade. Façam-nos crer que podem viver apenas com palavras ensaiadas, sem intimidade. Tornem a oração fria, repetitiva, vazia. Se eles não falarem mais com o Pai, o elo se quebra e nós ganhamos espaço para agir.

7º Mandamento. Devem tornar a Bíblia um livro esquecido. Coloquem dúvidas sobre sua veracidade, façam parecer ultrapassada. Distraíam-nos com tecnologias, redes sociais e preocupações. Façam-nos perder horas diante das telas, mas não suportarem quinze minutos de leitura das Escrituras. Quando a Palavra se afasta deles, sua fé enfraquece.

8º Mandamento. Devem atacar os líderes. Se não puderem derrubá-los em pecado, façam-nos cair em cansaço e desânimo. Façam-nos acreditar que estão sozinhos, que não têm apoio. Coloquem pessoas falsas ao redor para bajulá-los e, na hora certa, traí-los. Um líder caído arrasta muitos com ele.

9º Mandamento. Devem ridicularizar a fé diante do mundo. Façam com que os descrentes vejam os cristãos como fanáticos, hipócritas e tolos. Criem escândalos públicos, espalhem mentiras e zombarias. Façam os crentes se envergonharem de testemunhar e, assim, calem suas bocas.

10º Mandamento. Devem imitar tudo o que a igreja faz, mas distorcendo o propósito. Criem músicas, mas sem unção. Criem templos, mas sem presença. Criem pregadores, mas que busquem apenas aplausos. Façam cópias baratas de tudo o que é santo, para confundir os que buscam. Assim, muitos pensarão estar servindo ao Altíssimo quando, na verdade, estarão nos servindo.E assim terminou a primeira carta de Nefasto, o apóstolo das trevas, para a tribo Nidus. Seu escriba, Injúria, registrou tudo naquela tábua imunda, e as moscas, como testemunhas, sobrevoavam como se celebrassem cada mandamento.Meu coração queimava dentro de mim, e percebi que aquela visão não era apenas um pesadelo, mas uma revelação do quanto o inferno trama contra a igreja de Cristo.

O Último Reflexo no Lago

— Já é tarde, Mendes, meu filho, não demore aí fora.

Dona Joana falou carinhosamente, mas retrucou com aquele tom que só as mães dominam. Mendes estava recostado sobre uma mesa velha, dessas feitas para reunir a família nas refeições e festas.

Escrevia uma carta. Já imaginava o franzir da testa da amada, o rubor em seu rosto ao ler aquelas linhas. A carta estava pronta, mas faltava o título — como um livro sem arremate, como uma pintura sem assinatura.

Quase podia sentir o perfume dela. O toque. Mas era a primeira vez que criava coragem para escrever e havia levado horas para compor uma única frase.

Nos últimos três dias, a carta dormira numa gaveta, dentro de uma caixa de sapatos, escondida a sete chaves. Agora, diante dela novamente, flutuava no mar das angústias de apaixonado, quando a voz da mãe o arrancou do transe.

— Já vou, mãe! — respondeu.

Mas no coração, dizia outra coisa.

Já se levantava para obedecer quando as nuvens se abriram, e a lua iluminou a mesa. Sentiu o impulso voltar. Sentou-se outra vez e escreveu:

Para minha lua.


Salvador, quinta-feira, nove de setembro de 1980.

Vos escrevo, minha amada, porque não encontro coragem de lhe olhar nos olhos…

(a carta segue como no texto original, intacta, mas agora com respiros visuais para facilitar a leitura)


Antes de terminar, a voz da mãe cortou o silêncio do jardim:

— Timote Jeremy Renner Mendes!

O pai completou, em tom baixo:
— Para sua sorte, temos visitas… senão eu ia até aí com minha cinta. Entre logo e venha conhecer nossos novos vizinhos.

Mendes entrou.
— Surpresa!

Bolo. Presentes. Três pessoas no sofá — os pais dela e a irmã mais velha. O coração acelerou. Ela só podia estar ali.

Procurou. Nada.

Saiu para a varanda. O lago refletia a lua. Ouviu a música, os risos, mas também algo diferente:

— Se ela estivesse entre nós… hoje completaria quinze anos — disse Oséias, o pai dela.

Então, um grito. Uma corrida. Um estalo. E o som pesado no lago.

Na festa, deram falta do aniversariante.


Escrito por Noel Souza


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